Arquivo | maio, 2012

Museu da Infância

24 maio

Recentemente, meio que por acaso, visitei o Museu da Infância (V&A Museum of Childhood) daqui de Londres. Já havia ouvido falar sobre esse museu, mas como ele fica do lado leste da cidade, longe da área onde moro e circulo mais, nunca havia tido a oportunidade de visitá-lo. Mas estava turistando outro dia com uma amiga, tentando chegar num dos mercados do Leste – o Broadway Market – quando nos deparamos com o Museu da Infância. É claro que paramos nele, afinal, estava um tempo londrino daqueles, o museu é gratuito e a temática bem atrativa para duas psicólogas de formação.

Foto Ricardo Acioli

E é claro que amei o museu. Ele não é grande e está longe de ser um dos museus imperdíveis e principais de Londres, como alguns que já citei aqui. Mas, acho uma boa pedida para quem mora na cidade ou para quem já esteve em Londres por muitas vezes e já viu o clássico. Também pode ser bem interessante para quem estiver com crianças, assim como o Museu de História Natural e o de Ciência, também atrativos para o público infanto-juvenil. O melhor é que enquanto as crianças se divertam, os pais também se divertem relembrando e conhecendo mais sobre os brinquedos de sua infância.

Foto Ricardo Acioli

O acervo é riquíssimo, com objetos desde 1600 até os dias de hoje. É legal ver a história da infância pelos seus artefatos. Lembrei das aulas de psicologia do desenvolvimento, da Professora Lúcia Rabello, na qual discutíamos o conceito de infância. Há um momento histórico no qual essa fase passou a receber atenção especial, passando a ser alvo de diversos saberes. Por muito tempo, não existia uma demarcação clara entre a vida adulta e a infantil, e a criança era vista como quase um adulto em miniatura.

Parquinho de areia dentro do museu para os pequenos!

O interessante – que o museu aborda também – é que a infância continua se modificando, não só por conta da revolução digital, como também por conta do processo de urbanização pelo qual o mundo inteiro está passando. As cidades estão maiores do que nunca e, com isso, problemas ligados ao urbano tem afetado muito o “ser criança”, que hoje vive muito mais dentro de espaços fechados, uma vez que a rua virou sinônimo do lugar do desconhecido, do perigo, do medo, onde ninguém conhece ninguém e ninguém confia em ninguém.  Então, seja no Rio de Janeiro ou Londres, a brincadeira de rua, os amigos de ruas, a vizinhança conhecida, em uma certa medida, já não fazem mais parte da sociabilidade do tempo atual, o que deixa alguns mais velhos nostágicos sobre o tempo em que se podia brincar na rua descalço; ou outros apavorados sobre o que fazer com os filhos vidrados em computador, videogame e TV e uma série de problemas vinculados a isso, como obesidade infantil. Outros “novos perigos” ligados à infância são o consumismo desenfreado, a sexualização e a transformação deles em pequenos adultos…(Será que estamos retornando ao passado?). Enfim, pano pra manga essa discussão, né?

Foto Ricardo Acioli

Gostei também de ver que alguns brinquedos são atemporais, como o peão e também sobre a eterna divisão de sexos relativa ao brincar. Brinquedos do século 17  já demarcavam bem a diferença entre os sexos – os brinquedos femininos voltados para a vida doméstica, como ferro de passar, panelinhas, carrinho de bebê, por exemplo, e os masculinos ligados a alguma ação qualquer (bola, carrinho, etc). Acho que isso se perdura até hoje! Eu, massificada pelos brinquedos femininos que me deram a vida inteira, adorei as lindas casas de bonecas.rs! Parecem obras de arte e não só, são interessantíssimas para entendermos a vida privada do século 17, 18 e 19…

Bem, para quem se interessar, a estação de metrô do museu é Bethnal Green. Mais instruções como chegar aqui.

E lá se vai 1 ano…

16 maio

Hoje faz 1 ano que esse blog existe. O engraçado é que eu mesma não acreditava que conseguiria escrever tanta coisa aqui. Pensei que seria algo “fogo de palha” e que logo, logo o abandonaria. Mas eis que estou aqui, atolada que só, mas me desdobrando para escrever nesse espaço com certa frequencia.

Ainda não descobri o propósito desse blog e muito  menos quem o  lê e por que lê. Embora eu faça um esforço para postar coisas de interesse público, sei que caio também no pessoal, deixando escapar uma homenagem aqui e acolá ou um sentimento  saudosista vez por outra.

Mas acho que o próprio formato de blog é  convidativo à parcialidade, afinal, é escrito em primeira pessoa e fica muito difícil fugir da experiência pessoal. Aliás, é justamente por esse motivo que gosto de ler blogs, pois consigo ver as pessoas, o que elas pensam, as suas experiências com viagens, pessoas, com as diferentes fases da vida, com a sociedade. Acho mais transparente, já que desde o começo sabemos de qual lugar aquele escritor está partindo. Diferente do texto jornalístico que, em nome da tal falada imparcialidade, às vezes fica difícil de identificar as verdadeiras intenções do autor ao escrever determinada matéria (o pior é que muitas vezes consumimos aquilo como se realmente fosse algo neutro, quando na verdade não é!!!)

Por esses motivos e outros, tenho gostado tanto de escrever aqui. Esse, afinal, é um espaço meu, onde posso escrever livremente, sem muitas amarras, já que não é um blog profissional e, portanto, posso me dar o direito de postar sem revisão, cometer erros de português e pontuação sem muito dó, afinal, o objetivo maior é comunicar. Além disso, aqui não preciso referenciar nada, parte que mais amo!!! Desde 2006 estou envolvida com pesquisa acadêmica, fui bolsista CNPq, participei de dois grandes projetos de pesquisa, o que me rendeu artigos, congressos, relatórios científicos, etc. Hoje estou no mestrado, nas mesmas condições, mas um pouquinho pior, pois tenho que escrever em inglês, o que me toma horas e horas, fazendo com que a minha produção caia pela metade!!!  E quem é do mundo acadêmico sabe o quão chato é escrever academicamente. A escrita é muito rígida, fechada, com pouco espaço para a invenção. TUDO precisa ser referenciado, citado, justificado e explicado…ufa! Então, prazer maior do que escrever sem compromisso não há!

Entretanto, nem tudos são flores e a minha relação com esse espaço aqui é conflituosa. Realmente me pergunto todos os dias o porquê dessa minha necessidade de compartilhar o meu cotidiano com tantos desconhecidos, já que uma vez que tá na rede, não se tem mais controle algum. O problema que o conteúdo que está aqui exposto é a minha história, é a minha imagem, a minha visão de mundo que não quero impor a ninguém e muito menos normatizar nada…

Enfim, mas cheguei a algumas conclusões. Acho que a principal é a minha necessidade de não perder contato com o Brasil. Acho que tenho medo de me tornar aquelas pessoas que saíram do Brasil e nunca mais ninguém soube delas. Acho que o blog é uma tentativa de manter vínculos, compartilhar experiências, quase um pedido de “não esqueçam de mim”, “olha o que eu estou fazendo”…

Resumindo, na impossibilidade de um encontro no real, eu me encontro aqui no virtual com tantos queridos, com o meu país, com a minha língua e comigo mesma, que na medida em que escreve tenta dar conta, por um lado, da constante falta, ausência e saudade e, por outro, do encantamento e surpresa diante de um mundo novo, que na verdade é velho e por isso mesmo tão interessante aos meus olhos!

Uma vida no campo (Interior da França – Parte 2)!

12 maio

No post anterior descrevi o nosso percurso pelas cidades que tinham relação com a família do meu marido. Nesse post falo de outras cidades lindíssimas pelas quais passamos nessa viagem de 1 semana pelo interior francês, riquíssimo em história, castelos medievais e boa comida, apesar de não ser tão conhecido.

Vacas do Limosin

Collonges-la-Rouge é uma cidade fundada no século 8. Ela é mais uma dessas cidades pequeninas por qual passamos. Porém, o que impressiona e a diferencia das outras é a sua arquitetura. Ela é toda vermelha! No dia em que fomos lá, o cenário estava perfeito por conta do contraste das cores provocado pelo vermelho das casas, o céu azul, o mato verdinho ao redor e um sol brilhante. O tempo estava tão divino, que almoçamos ao ar livre, sem pressa alguma.

Collanges-la-Rouge

Almocinho delícia ao ar livre em Collonges

Turenne é uma cidade medieval localizada na encosta de um penhasco. Ela foi o último feudo independente da França, pertencendo à família La Tour até 1738. Já na estrada, é possível vê-la no alto do morro e o que sobrou do castelo de Turenne. No guia da Folha de São Paulo, ela é considerada a cidade medieval mais atraente da Corrèze, embora não seja tão visitada como Collanges. Visitamos as ruínas do castelo, onde se tem uma linda vista do entorno. Bem, não sei se ela é a mais atraente, mas acho que com certeza vale a visita.

Turenne

Turenne

Sarlat-la-Caneda é uma jóia. Ela possui a maior concentração de fachadas medievais, renascentistas e do século 17 dentre as cidades francesas, sendo basicamente um museu ao ar livre. E ela impressiona mesmo! Nos programamos para visitá-la no sábado, quando acontece um mega mercado ao ar livre, famoso por ser um dos melhores do país. Infelizmente choveu muito nesse dia e não pudemos aproveitar a cidade em sua potencialidade, mas mesmo assim foi sensacional.

Sarlat

Rocamadour é uma cidade de peregrinação desde 1166, quando um corpo ainda conservado foi achado num túmulo. Diz a lenda que uma série de milagres teriam acontecido sobre a Virgem Negra e o Menino na capela da cidade após essa descoberta.

Virgem negra/ foto Ricardo Acioli

Desde então a cidade virou rota de perigrinação, atraindo andarilhos do mundo inteiro. A cidade em si é bem bonita, pois fica encrustada na pedra. É legal vê-la de longe, para se ter uma ideia sobre a sua construção peculiar. A melhor vista é da aldeia L’Hospitalet, dica que pegamos num guia turístico.

Rocamadour/ Foto Ricardo Acioli

La Roque-Gageac é uma cidadezinha que impressiona. Ela fica na beira do rio e parece talhada na pedra. O cenário é lindíssimo, o rio, o castelo e a cidade na pedra! Acredita-se que essa cidade é habitada desde os tempos pre-históricos! O nosso único lamento foi de não ter podido ficar mais tempo nela, pois o dia reservado para a sua visita foi um dia com um tempo terrível, o que prejudicou a nossa programação. Já chegamos nela no fim da tarde e ainda com uma cidade para conhecer. Mas tudo bem, sempre é bom ter motivos para voltar!!=)

La Roque Gageac

Visitamos também um dos mais importantes castelos da região da Dordogne, o Castelo de Benyac. Esse castelo impressiona por se localizar estrategicamente num alto de uma montanha. De longe, já se pode vê-lo, imponente. E o castelo em si é bem bonito, pode-se visitar parte dele, já que uma outra parte é habitado (chocante, né?). E a vista que se tem de lá em cima é de tirar o fôlego! De lá, avistam-se outros castelos, além do lindo serpentear do rio Dordogne. O castelo já foi locação de vários filmes, como o Joana D’Arc de Luc Besson e Chocolate (somente a sua vila).

Chateau Beynac/ Foto Ricardo Acioli

Um outro ponto alto da viagem foi a visita a Lascoux II. Lascaux é um conjunto de cavernas no qual foram encontrado pinturas paleolíticas de nada menos que 17.000 anos atrás. Ela foi descoberda na década de 40, porém, por conta do gás carbônico liberado pela respiração humana, as pinturas começaram a se danificar. Então, desde 1963, Lascoux é fechada ao público. Entretanto, uma enorme réplica bem fiel à original – Lascaux II – foi criada e aberta ao público em 1983 para que pessoas do mundo inteiro pudessem apreciar as impressionantes pinturas. Achei que fosse encontrar desenhos pequenos, pobres em detalhes, monocromáticos, mas não. As pinturas são coloridas e enormes! Há várias teorias sobre qual seria o propósito de Lascaux para o seu tempo e uma delas acredita que o local era um lugar de rituais com o objetivo de atrair uma boa época de caça. Outros acreditam que aquelas pinturas tinham como objetivo registrar estratégias de caça bem sucedidas. Enfim, ninguém sabe ao certo o que Lascaux era, mas que aquelas pinturas foram feitas pelos VanGoghs, Picassos, Da Vincis da “era das cavernas”, isso sim!

Montinhac – cidade na qual se compra o ingresso para Lascaux II/Infelizmente não se podia fotografar a gruta, mesmo sendo uma réplica.

Domme é uma cidadezinha medieval fortificada localizada em cima de uma falésia. Mais uma vez, o mesmo cenário. Ruas de comércio medievais, o rio Dordogne ao fundo e restaurantezinhos charmosos. Assim fica difícil de não se apaixonar pela França!

Domme

No nosso caminho entre uma cidade e outra, paramos em Gluges, cidade que não tem nada, a não ser uma igrejinha que Edith Piaf ajudava e passava férias.

Almoçamos também em Beaulieu-sur-dordogne, cidade bem agradável, com casas antiguíssimas e margeada pelo rio Dordogne. Vale à pena caminhar até as suas margens!

Pintura!

Paramos em Curemonte para ver por fora os seus dois castelos.

Fomos a Uzerche, que apesar de ser recomendada, não tivemos uma boa química com ela. Chegamos num domingo lá, estava tudo fechado e realmente não conseguimos nos impressionar com esta cidade, que dizem ter uma vista incrível por conta dos telhados cinzas de ardósia das casas na colina.

Por fim, visitamos também o Castelo de Pompadour. Ele é bonito, mas depois de tanta coisa linda, já estávamos meio vacinados e também cansados, que também não nos empolgamos. O legal da área são os cavalos, já que há um enorme haras em frente (e dentro do castelo também) e também o caminho para acessá-lo, passando pela rota das maças.

Rota das maças

Bem, para terminar, finalizo com um comentário sobre a comida regional. As comidas típicas dessas regiões são os cogumelhos setas e girolles, o fois gras (patê de ganso), pato e as trufas negras. A cada cantinho que íamos, era todo aquele ritual culinário francês com pão, vinho, entrada, prato principal, sobremesa e café. Nem preciso dizer que nos acabamos também no turismo culinário, que faz parte da cultura e turismo francês!

Li que a região está em decadência com a migração da população para as cidades em busca de melhores oportunidades e o declínio do modo de vida camponês, tendência do nosso tempo. Mas foi inevitável não pensar que uma casa no campo – para esticar as pernas quando elas estiverem pesadas com a idade, com um chá ao lado, vendo a vida passar olhando para um vale qualquer, com um rio serpenteando ao fundo – não ia ser nada mal!!! Será que estou virando inglesa e já sonhando com o “countryside”? hahahha. Eu hein, sai pra lá! =)

Esse é o mapa com as cidades pelas quais passamos:

Os de Lagaye e de Lanteuil – parte 1

2 maio

Nesse mês fizemos uma viagem muio especial de 1 semana pelo interior da França. O objetivo principal, na verdade, era conhecer as terras dos antepassados da família do Felipe. O meu sogro já  havia visitado essa parte da França duas vezes, pois ele é fissurado em história em geral, e não podia ser diferente em se tratando da própria família. Então, ele quis reunir os filhos para mostrar da onde parte da família deles vieram. E, eu, como sou uma de Lanteuil agora, “entrei de gaiato nesse navio”…rs!

Por conta disso, fomos a cidades nada turísticas, bem pequeninas, algumas com somente quatro casas e um tanto quanto fantasmas. Mas também aproveitamos para conhecer as cidadezinhas da redondeza recomendadas pelos guias turísticos. Na verdade, essa viagem superou qualquer expectativa. Lembro que o Felipe comentou com uma colega de trabalho francesa que estava indo para essas regiões e ela ficou chocada “Mas o que vocês vão fazer lá, não tem nada!”. Ledo engano! As regiões que visitamos são cheias de história pra contar, castelos e cidades medievais, comida caseira divina (do interiô!), rios e cidades encrustadas na pedra.

Bem, começo com uma breve histórico da família para depois entrar no roteiro em si. Os sobrenomes do Felipe são “de Lagaye” e “de Lanteuil”. Esses “de” significam que eles vieram de famílias nobres, já que trazem os nomes das terras que pertenciam à família. Nobres de coração, eu já sabia que eram há muito tempo, então não foi nenhuma surpresa isso! =)

Bem, como não dá para recapitular toda a genealogia da família, registro aqui a parte na qual as famílias Gaye (que virou “de La Gaye” e depois “de Lagaye” ao longo dos anos) e Lanteuil se uniram.

“Os senhores de Lagaye”

Em 1550, a família Gaye habita o Castelo de Gaye, em Lostanges, na Corrèze. Por volta de 1580, Pierre de Gaye ganha um título de nobreza ao se tornar “Conseiller Sécretaire” do rei Henri IV. Porém, foi somente em 1683 que Pierre Gabriel de Gaye – neto de Pierre de Gaye –  adquire Lanteuil através do casamento com Jeanne d’Estresses. Jeanne d’Estresses possuía Lanteuil por conta de uma herança deixada por sua mãe, a Madeleine de Mirandol. O filho deles, Raymond de La Gaye era Visconde de Lanteuil.

Eis a prova de nobreza da família!

Os netos de Raymond de La Gaye, Pierre Charles Hubert – Visconde de Lanteuil na ocasião – e François, emigram para lutar nos exércitos realistas na Suíça durante a Revolução de 1792 . Seus bens em La Gaye e Lanteuil são confiscados.  Pierre Charles Hubert morre no combate e François torna-se Visconde e, depois da restauração da monarquia francesa em 1815, torna-se Conde, recuperando as propriedades de La Gaye e Lanteuil. Ele volta a morar em La Gaye, virando prefeito de Lostanges.

Brasão de Lostanges – detalhe que esse rapaz da foto é um dos antepassados e se parece bastante com um tio. Ficamos impressionados com as semelhanças!!!rs!

Seus filhos, Alphonse e Hippolyte, são os últimos a nascerem em La Gaye. Eles moram lá até a morte do pai, em 1848, quando se mudam para Clemont-Ferrand, no Auvergne, para morar na fazenda Le Monteix (hoje, Le Montet) em Condat-en Combraille, onde em 1894 nasce Henri de Lanteuil, bisavô do Felipe. 

A foto está péssima, mas dá para ver o brasão da cidade de Lanteuil

O bisavô do Felipe – Henri de Lanteuil – lutou na Primeira Guerra Mundial. Ele estava num covento para ser padre quando foi convocado para lutar nas trincheiras. Ele ficou alguns anos lá, até que decidiu seguir para o Brasil numa missão religiosa. Já na Espanha, a sua mãe alcançou-o para tentar convencê-lo a voltar, mas não teve jeito, o destino era Brasil mesmo. Ele partiu, então, rumo ao Brasil , mas chegando em Cananéia, São Paulo, se desencantou com a vida religiosa, abandonou o grupo e foi para o Rio, onde conheceu uma bonita brasileira, dando, assim,  início ao ramo brasileiro dos “de Lagaye de Lanteuil”.

Ufa, depois dessa sessão de história na veia, vamos ao roteiro. Focamos nas regiões Corrèze, Dordogne, Lot e Haute-Vienne. Infelizmente não conseguimos ir à região do Auvergne ver uns vitrais de umas igrejas do trisavô do Felipe, o Hippolyte, por ficar muito longe da onde estávamos.
Ficamos hospedados em Brive-la-Gaillarde, que é a cidade mais populosa da Corrèze, com cerca de 50 mil habitantes. De lá, partíamos todos os dias para visitar as cidades do entorno. Carro é essencial para conhecer essa região.

Brive-la-gaillard

Vou começar pelas cidades que tem relação com a família.  Começamos por Lostanges, cidade na qual La Gaye faz parte. Lostanges é uma cidade com cerca de 130 pessoas. Mas na prática, é quase uma cidade fantasma. Chegamos lá com o objetivo de conhecer uma igreja do século XII – construída no lugar de uma antiga fortaleza – e também a associação dos amigos de Lostanges, onde se encontram documentos históricos sobre as famílias da região, inclusive da família La Gaye. Batemos na casa de uma senhora que nos abriu a igrejinha, que tem um retábulo muito bonito, recém restaurado. Ela simpaticamente chamou um outro senhor, que abriu a Assossiação para a gente. Lá, vimos a pasta com as cópias dos documentos sobre a família La Gaye (títulos de nobreza, certidões de casamento, nascimento, etc).  O próximo ponto de interesse era La Gaye, vilarejo de Lostange, para onde partimos logo em seguida.

Lostanges

Em La Gaye, o objetivo era ver as ruínas do castelo da família, que foi destruído na época da revolução francesa e as suas pedras, roubadas para a construção de casas na área. La gaye é minúsculo, tem apenas 4 casas. Assim que chegamos uma senhora de uma outra casa apareceu para perguntar o que queríamos (afinal, quantas pessoas passam por lá por dia?) e aproveitou para oferecer a casa dela, construída com as pedras do antigo castelo, que estava à venda. Tentamos em vão contactar alguém da casa onde as ruínas do castelo se encontram, mas não obtivemos nenhuma resposta, infelizmente.
Visitamos também o Castelo D’Estresses, que pertencia a Jeanne d’Estresses, também ancestral da família. O castelo abriu recentemente à visitação. E o tour foi super legal e bem pessoal. O atual dono faz o tour, explicando detalhes de sua construção, como a sua família adquiriu o castelo, algumas curiosidades da história dele (no pós-revolução, o castelo foi dividido e chegou a pertencer a 3 famílias diferentes, visto as dificuldades para mantê-lo). O tour foi bem longo, já que o dono do castelo parecia bem empolgado e apaixonado por aquilo que estava fazendo. A sua esposa, prefeita de Astaillac, veio depois nos cumprimentar, acompanhando parte do tour, e esbanjou simpatia como o seu marido.

Chateau d’Estresses

Chateau d’Estresses

Lanteuil também foi emocionante conhecer, a família estava muito empolgada. A cidade também é bem pequena, mas maior que Lostanges e La Gaye. Ela tem por volta de 500 habitantes e uma igrejinha do século XV. Há também o castelo de Lanteuil, que um dia foi da família, que se desfez dele quando se mudaram para o Auvergne
Ele estava fechado, então não rolou de ir lá bater na cara de pau e pedir para conhecê-lo por dentro. Mas conseguimos ver a igreja. Assim que chegamos, fomos abordados pelo presidente da associação folclórica e o prefeito da cidade. E eles foram uma simpatia! Abriram a igreja para a gente e nos levou à prefeitura.  O prefeito, ainda, nos levou em sua casa para conhecermos a sua cave (adega) do século 16. Quanta gentileza! Só faltou mesmo abrir um vinho e tomar com a gente… rs! Voltamos a Lanteuil uma segunda vez para almoçar lá e comprar algumas souvenirs e não nos arrependemos. Paramos num restaurante familiar local (Lanteuillois) e comemos uma comidinha super ultra caseira honestíssima, boa e barata. As cidades são tão pequenas que os prefeitos parecem síndicos, totalmente acesssíveis.
No mais, demos uma parada em Martel, a cidade das 7 torres, para ver as torres de Tournemire e Mirandol, de famílias ancestrais. Fomos num domingo de Páscoa e a cidade estava bem vaziinha, então foi uma parada bem rápida.
Martel - foto internet
E ainda vimos o Castelo de Mirandol, que se localiza numa propriedade privada, mas mesmo assim entramos nela para perguntar se podíamos vê-lo. E, mesmo receosos de sermos mal recebidos, conseguimos chegar no castelo! Ele estava alugado para uma outra família, que nos permitiu tirar uma foto de fora.

Mirandol

Bem, esse foi o roteiro familiar. No outro post, escreverei sobre as outras lindas cidades que visitamos não relacionadas à família e, vamos dizer assim, mais turísticas.
Informações práticas:
– nesse site, feito por um “de Lagaye de Lanteuil” do ramo francês, podem ser encontradas informações mais detalhadas sobre a família: http://mapage.noos.fr/ddel/histoire/histoire.htm
– ficamos num hotel em Brive duas estrelas bem bom, chamado Ace.
– eu não sou especialista na história da família, então posso ter confundido algo. Aliás, só consegui escrever esse post graças ao sogrão, o verdadeiro entendedor. Então, muitas das coisas que escrevi aqui são falas e histórias vindas dele, que estudou, pesquisou e ouviu da própria boca do seu avô, o Henri.